Realizada em SC, saída pelágica tem saldo de 13 espécies avistadas e mais de mil fotos
02/07/2024
Expedição aconteceu em Balneário Camboriú (SC) e reuniu 67 pessoas. Foram registrados 533 albatrozes-de-sobrancelha, 178 albatrozes-de-nariz-amarelo e 186 pardelas-pretas. O albatroz-de-sobrancelha é encontrado com frequência nas águas costeiras do sul do Brasil, ocasionalmente migrando para regiões mais ao norte, como São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Sergipe e Alagoas
Omar J. R. Cardoso
Um grupo de 67 pessoas se reuniu em uma experiência única de observação de aves marinhas em Balneário Camboriú (SC), em 22 de junho, dentro de um barco pirata.
A maioria dos participantes era formada por apaixonados pelas aves, provenientes de estados como Espírito Santo, Distrito Federal, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, além de 4 tripulantes. De acordo com um dos organizadores, a saída pelágica foi umas das maiores realizadas no país.
Maior saída pelágica do Brasil reuniu grupo composto por biólogos e observadores de estados como Espírito Santo, Distrito Federal, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul
Jeferson Lopes Ferreira
A expedição, que durou 12 horas, teve como objetivos principais a observação das aves marinhas e a confraternização entre os participantes, sendo o reencontro de entusiastas da área e a oportunidade de capturar momentos únicos através da fotografia.
Além disso, a saída visava impulsionar o turismo voltado para a observação de aves, destacando o potencial natural de Santa Catarina e fortalecendo a economia local.
A palavra "pelágica" tem sua origem no grego antigo, derivando de "pelagos", que significa "mar aberto" ou "alto mar". Esse termo é frequentemente utilizado para descrever espécies ou ecossistemas marinhos encontrados em águas abertas, longe da costa.
"Por isso, em nossas expedições, usamos o termo 'saídas pelágicas'. Muitas vezes navegamos até 60 km, partindo de locais como Itanhaém e passando pela Ilha da Queimada Grande (Ilha das Cobras), ou até 70 km, saindo de Peruíbe e passando pelas ilhas do Guaraú e Queimada Pequena até o Parcel das Seis. Às vezes, realizamos navegações de até 200 km, como em nossa saída para a plataforma de Mexilhão, partindo de São Sebastião", explica a guia de observação de aves Elen Dias.
Gaivotão (Larus dominicanus) é a única gaivota de ocorrência constante no Brasil com maior porte, alcançando cerca de 58 centímetros de comprimento
Sâmia Munaretti
Ainda estava escuro quando o grupo iniciou a aventura. O biólogo Willian Menq conta que a expedição começou às 5 horas da manhã, o que proporcionou a alegria de ver o clarear do dia em meio ao mar.
"O céu foi clareando e as silhuetas das aves foram surgindo na superfície da água e, quando me dei conta, estava cercado de aves. Foi muito especial. Por vários momentos eu ficava impressionado com o fato de que em meio ao horizonte sem fim do mar, onde parece não ter nada, de repente começam a surgir várias aves pousadas ou voando próximo ao barco", relata.
Expedição teve como objetivo não apenas a observação das aves marinhas, mas também a promoção da confraternização entre os participantes
Fábio Barata
Menq fez sua primeira saída pelágica e destaca os avistamentos do albatroz-de-sobrancelha e do albatroz-de-nariz-amarelo como os mais especiais. "Sempre tive muita curiosidade de ver ao vivo, na natureza".
"Eu acho que essas aves pelágicas têm um gostinho especial, porque parece que elas pertencem a um mundo desconhecido para a maioria das pessoas", diz ele.
Grupo de observadores registrou 178 albatrozes-de-nariz-amarelo (Thalassarche chlororhynchos) durante saída pelágica em Balneário Camboriú (SC)
Gil Ribeiro L. Péres
Durante a saída, os observadores avistaram 533 albatrozes-de-sobrancelha (Thalassarche melanophris), 178 albatrozes-de-nariz-amarelo (Thalassarche chlororhynchos) e 186 pardelas-pretas (Procellaria aequinoctialis). Além dessas, entram na lista da expedição as espécies:
Pardela-de-barrete (Ardenna gravis)
Mandrião-antártico (Stercorarius antarcticus)
Mandrião-do-sul (Stercorarius maccormicki)
Mandrião-chileno (Stercorarius chilensis)
Pinguim-de-magalhães (Spheniscus magellanicus)
Gaivotão (Larus dominicanus)
Trinta-réis-de-bico-vermelho (Sterna hirundinacea)
Trinta-réis-de-bando (Thalasseus acuflavidus)
Fragata (Fregata magnificens)
"Foi um verdadeiro espetáculo da natureza. Sempre esperamos encontrar mais espécies diferentes, e cada avistamento é uma alegria única. Estar cercado por tantas aves magníficas também é um lembrete da ameaça que enfrentam devido à poluição dos oceanos e à pesca excessiva, causadas por nós, seres humanos", afirma Fábio Barata, guia de observação de aves e organizador da expedição.
Os trinta-réis-de-bico-vermelho chegam a atingir 41 cm de comprimento e os adultos possuem bico e pés vermelhos o ano todo
Felipe Kenzo Aoyagui
Para o ambientalista Cristiano Voitina, também organizador da saída pelágica, uma expedição como essa, reunindo tantos apaixonados pelas aves, representa muito.
"Eu invisto boa parte da minha vida fomentando a prática de observação de aves, porque eu acho que é uma forma de ajudar a preservar o meio ambiente e as espécies. E para preservar as pessoas precisam conhecer, precisam ver espécies novas. Já dizia Santo Agostinho: 'só se ama aquilo que se conhece'. Nós queremos criar esse senso de consciência ambiental nas pessoas", pontua
Mandrião-chileno é uma espécie migratória de longo curso, encontrada em regiões como Antártica, Argentina, Brasil, Chile, Equador, Peru, Uruguai e Ilhas Falkland (Malvinas)
Thelma Gatuzzo
A expedição
A saída pelágica foi organizada a partir de um convite feito durante o evento Observa Joinville, em abril, por Cristiano Voitina, autor do livro "Aves Catarinenses", e a esposa Carla Cravo, ao casal de observadores de aves Fábio Barata e Elen Dias.
A embarcação escolhida para essa missão foi um barco pirata com capacidade para até 400 tripulantes, que realiza passeios em Santa Catarina desde 1983
Jussara Izele Martins
A embarcação escolhida para essa missão foi um barco pirata com capacidade para até 400 tripulantes, que realiza passeios em Santa Catarina desde 1983. A expedição também contou com o apoio de uma embarcação menor e, portanto, mais rápida, para aumentar as chances de avistamentos.
Da embarcação menor, Cristiano Voitina ia atraindo as aves com o uso de engodos, como tripas e peixes frescos.
"Como eu já tenho conhecimento dessa área, por ter sido pescador e mergulhador profissional durante muitos anos da minha vida, eu fui na frente do barco pirata com um barco menor para poder ir avistando e direcionando o pessoal que estava no barco através de um rádio. Tudo isso para que a experiência de avistamento do grupo fosse completa", conta Voitina.
40% dos inscritos participavam pela primeira vez de uma saída para observação de aves oceânicas
Fábio Barata
Para a fotógrafa de natureza Sâmia Munaretti, essa saída pelágica foi memorável. "Já havia participado de outras saídas, mas essa foi especial. Para mim o destaque ficou por conta do pinguim-de-magalhães e da vista espetacular de Balneário Camboriú".
"O que mais me encanta na fotografia é a capacidade de transmitir uma mensagem que incentive as pessoas a conhecer e preservar a natureza, pois sem ela não estaríamos aqui. Em um mundo onde estamos constantemente conectados à tecnologia, é vital romper esse ciclo ocasionalmente e nos reconectar com a natureza, encontrando momentos de liberdade, silêncio, contemplação e introspecção, que são essenciais para o nosso bem-estar", completa a profissional de marketing.
A fotógrafa de natureza Sâmia Munaretti durante saída pelágica por Balneário Camboriú (SC)
Sâmia Munaretti
Aves marinhas
Por ficarem muito tempo no mar, as aves marinhas têm estratégias únicas para dormir, adaptadas ao seu estilo de vida. O ornitólogo Fábio Barata explica que elas podem dormir em voo (chamado de voo sono), dormir pousadas na água e dormir em plataformas terrestres.
O trinta-réis-de-bico-vermelho é considerado como vulnerável à extinção pela lista nacional de espécies ameaçadas de extinção, do Ministério do Meio Ambiente
Leonardo Destro
Algumas aves marinhas, como é o caso dos albatrozes, podem dormir enquanto voam. Elas descansam um hemisfério cerebral de cada vez, permitindo que mantenham algum nível de consciência enquanto continuam voando.
Outras espécies preferem dormir enquanto estão na água. "Elas podem flutuar ou descansar em plataformas como icebergs, troncos de árvores à deriva ou em áreas calmas do oceano, o que as deixa vulneráveis a predadores", reforça Barata.
Pardela-de-barrete (esq.) e albatroz-de nariz-amarelo (dir.) voando juntos
João Victor Seara de Sá
Já os pinguins e algumas gaivotas, por exemplo, retornam à terra para dormir, especialmente durante a época de reprodução.
"Elas formam colônias em ilhas ou nas costas para descansar. Durante a migração, muitas aves dormem em alto mar, às vezes enfrentando desafios como a exaustão", completa.
As pardelas-pretas são encontradas nas costas brasileiras, desde o Rio Grande do Sul até o estuário do Rio Amazonas e a Ilha de Marajó durante o inverno
Rita Carvalho
Fragata
Uma das espécies mais fotografadas pelo grupo foi a fragata, conhecida também como "pirata do mar". Este nome é derivado de seu comportamento de "roubar" alimentos de outras aves durante o voo.
Fragata é conhecida como "pirata do mar" devido ao seu comportamento de "roubar" alimentos de outras aves durante o voo
Sâmia Munaretti
"Como elas não conseguem pousar na água devido à falta de impermeabilização em suas penas, elas desenvolveram técnicas especiais para se alimentar, seja pegando os peixes capturados por outras aves ou até 'atacando' outros indivíduos até que regurgitem a presa", diz Barata.
O guia já presenciou cenas em saídas pelágicas de fragatas batendo na parte abdominal de outras aves forçando-as a devolverem o alimento. "Elas também usam movimentos rápidos de cabeça e bico em forma de gancho para capturar presas que flutuam na água".
No Brasil, são encontradas colônias de fragatas em Fernando de Noronha, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina
Marcelo Baldin
O campeão de registros
O albatroz-de-sobrancelha, também conhecido como albatroz-de-sobrancelha negra, gaivotão, antenal e pardelão no Rio Grande do Sul, é encontrado com frequência nas águas costeiras do sul do Brasil, ocasionalmente migrando para regiões mais ao norte, como São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Sergipe e Alagoas.
Durante os meses fora da época de reprodução, muitos albatrozes-de-sobrancelha deslocam-se para o sul da África, especialmente ao longo da região da Corrente de Benguela e até o Cabo da Boa Esperança
Willian Menq
Durante os meses fora da época de reprodução, muitos desses albatrozes deslocam-se para o sul da África, especialmente ao longo da região da Corrente de Benguela e até o Cabo da Boa Esperança.
A filopatria (fidelidade ao local onde nasceu) é forte entre eles, com uma alta taxa de retorno das jovens aves às colônias de origem, como nas Ilhas Geórgia do Sul, onde a sobrevivência anual dos adultos é notavelmente alta, alcançando até 96% para as fêmeas e 94% para os machos.
Com uma envergadura máxima de 2,5 metros e medindo entre 83 e 93 centímetros, essa espécie apresenta um padrão de plumagem predominantemente branca, com asas e cauda em negro, e um uropígeo branco.
Ainda estava escuro quando os observadores de aves partiram para a aventura dentro de um barco pirata com mais de 30 metros de comprimento
Leandro Corrêa
Seus olhos são atravessados por uma faixa cinzenta curta, e o bico é amarelo-alaranjado com a ponta vermelha, sendo caracterizado por narinas em forma de tubos, adaptadas para eliminar o excesso de sal adquirido ao ingerir água do mar.
Esses albatrozes alimentam-se principalmente de cefalópodes como lulas, krill, peixes, lampreias e medusas, demonstrando habilidades razoáveis de mergulho para capturar presas até a profundidade de 5 metros.
Sua notável agressividade e entusiasmo ao perseguir embarcações pesqueiras em busca de alimento são marcantes. Frequentemente, agrupam-se ao redor de espinheleiros em operação para se alimentar de descartes e iscas, o que os coloca em risco de ficarem presos nos anzóis e morrerem afogados.
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